A um Retrato
Amo-te, flor! Se te amo, Deus que o sabe
Que o diga a teus irmãos, que o Céu povoam
E ébrios de glória cânticos entoam
A quem no mar, na Terra e Céus não cabe.
Se te amo, flor! que o diga o mar que expele
Quanto é domínio, e beija humilde a praia...
Se mal que a Lua lá das ondas saia
Nas rochas me não vê gemer com ele!
Amo-te, flor! Se te amo, o Sol que o diga:
Quando lá da montanha aos Céus se eleva,
Se entre os vermes do pó, que o vento leva,
Me banha a mim também na luz amiga.
Se te amo, flor? Sem ti... que noite escura,
Meu céu, meu campo em flor, meu dia e tudo!
Diga-te a noite minha se te iludo,
Se em vida já sem ti sonhei ventura!
O anjo que no berço humilde e escasso
Do Céu me veio alumiar piedoso
E em lágrimas e riso, pranto e gozo,
Desde então me acompanha passo a passo;
És tu! Amo-te e muito! O que flutua
Na fornalha que o sopro eterno acende,
Não beija a mão do anjo que o suspende
Com mais amor que eu beijo a sombra tua!
João de Deus, in 'Campo de Flores'
Que o diga a teus irmãos, que o Céu povoam
E ébrios de glória cânticos entoam
A quem no mar, na Terra e Céus não cabe.
Se te amo, flor! que o diga o mar que expele
Quanto é domínio, e beija humilde a praia...
Se mal que a Lua lá das ondas saia
Nas rochas me não vê gemer com ele!
Amo-te, flor! Se te amo, o Sol que o diga:
Quando lá da montanha aos Céus se eleva,
Se entre os vermes do pó, que o vento leva,
Me banha a mim também na luz amiga.
Se te amo, flor? Sem ti... que noite escura,
Meu céu, meu campo em flor, meu dia e tudo!
Diga-te a noite minha se te iludo,
Se em vida já sem ti sonhei ventura!
O anjo que no berço humilde e escasso
Do Céu me veio alumiar piedoso
E em lágrimas e riso, pranto e gozo,
Desde então me acompanha passo a passo;
És tu! Amo-te e muito! O que flutua
Na fornalha que o sopro eterno acende,
Não beija a mão do anjo que o suspende
Com mais amor que eu beijo a sombra tua!
João de Deus, in 'Campo de Flores'
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