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RECORDAR VITORINO NEMÉSIO (ver vídeo)



O poema em que te busco é a minha rede,
Bem mais de borboletas que de peixes,
E é o copo em que te bebo: morro à sede
Mas ainda és margarida e não-me-deixes
E muito mais, no enumerar das coisas:
Cordão de laço e corda de violino,
Saliva de verdade nalgum beijo,
E poisas
Como ave de aço em pão se não te vejo.
Mas onde mais real do céu me avisas
É nas tuas camisas,
Calças de cor no catre bem dobradas.
E és os meus pensamentos, se te ausentas,
Meu ciúme escuro como vinho em toalha;
E o branco circular das horas lentas
Que um perfurante amor lembrado espalha.
Põe o penso no velo intercrural
Com um atilho vertical:
Rosa coberta esquiva
Quer a mão do desejo, quer
O conhecido cravo da agressão
Que estendo às tuas formas de mulher,
Com esta soma e verbal percaução
De um fónico doutor de Mompilher. 

Vitorino Nemésio, in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"


Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, nasceu em Praia da Vitória a 19 de Dezembro de 1901  (Ilha Terceira – Açores) e faleceu em  Lisboa a 20 de Fevereiro de 1978. foi um poeta, escritor e intelectual que se destacou como romancista, autor de Mau Tempo no Canal, e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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